Por que você, expatriado no Brasil, precisa ter uma Assinatura Qualificada
- Clivanir Cassiano de Oliveira
- 24 de nov.
- 4 min de leitura

A velha assinatura à caneta e o reconhecimento de firma: um modelo que já não acompanha o mundo moderno
Por muitos anos, assinar um documento no Brasil significava apenas uma coisa: pegar uma caneta, fazer sua assinatura no papel e… ir ao órgãos público do tribunal brasileiro, chamado de "cartório". Esse passo extra, chamado reconhecimento de firma, é uma tradição brasileira: o cartório compara a sua assinatura feita no papel com a assinatura verdadeira que você registrou anteriormente no próprio cartório.
O processo funciona assim:
você leva o documento assinado até o cartório;
mostra seu documento de identidade;
paga uma taxa;
o cartório confere sua assinatura com a que está arquivada;
e então carimba o papel confirmando: “Sim, essa assinatura é realmente sua.”
Por muitos anos, essa era a única forma segura de provar que alguém havia assinado um documento.
Mas o mundo mudou. Com a tecnologia — e com a globalização — essa prática começou a se tornar ineficiente e incompatível com a realidade atual.
Hoje as pessoas:
vivem entre dois países (ou mais)
contratam serviços remotamente;
têm vida profissional em mais de um continente;
e precisam assinar contratos enquanto viajam.
E isso é especialmente comum com expatriados vivendo no Brasil, que muitas vezes passam:
parte do ano no Brasil,
parte no país de origem,
ou vivem em trânsito constante.
No meu próprio escritório, totalmente digital, isso é rotina. Eu atendo clientes do mundo inteiro: Holanda, Estados Unidos, Canadá… E eu não preciso estar no Brasil todos os meses do ano para trabalhar, desde que haja conexão com a internet.
Nesse cenário, depender de um cartório brasileiro físico para validar uma simples assinatura não faz mais sentido. E é isso que a legislação brasileira percebeu, criando a estrutura das assinaturas eletrônicas — e, especialmente, da Assinatura Eletrônica Qualificada, que substitui com total segurança o antigo reconhecimento de firma.
Agora que você entendeu esse ponto de partida, vamos ao conteúdo essencial.
1. Afinal, o que é uma Assinatura Qualificada?
Ela é a versão moderna, digital e muito mais segura do antigo “reconhecimento de firma”.
A Assinatura Eletrônica Qualificada:
equivale, e até supera, a assinatura à caneta validada em cartório;
é emitida com base em certificado digital ICP-Brasil;
tem a maior segurança jurídica existente;
não pode ser facilmente contestada;
é aceita por Receita Federal, tribunais, empresas, sistemas públicos e privados.
É como se o cartório estivesse dentro do seu celular.
2. O que diz a legislação brasileira
A Lei nº 14.063/2020 definiu três níveis de assinatura eletrônica:
simples,
avançada
qualificada.
E determinou que, quando um ato exige segurança máxima, somente a assinatura qualificada é válida — principalmente nos órgãos públicos. Isso inclui:
Receita Federal;
processos fiscais;
atos bancários;
contratos societários;
procurações eletrônicas;
sistemas oficiais do governo.
Para estrangeiros, isso aparece muito em:
abertura de empresa no Brasil;
regularização de imposto de renda;
saída ou entrada fiscal;
procurações digitais;
investimentos no Brasil;
contratos imobiliários.
3. Assinatura Avançada: prática, útil, mas com limitações reais
É importante entender a diferença. A assinatura avançada é comum em plataformas como:
D4Sign,
DocuSign,
Clicksign,
Adobe Sign.
As assinaturas avançadas são:
relativamente seguras,
práticas,
ótimas para documentos cotidianos.
Mas têm limitações:
cartórios podem não aceitar;
bancos podem recusar;
para Receita Federal, muitas vezes não é suficiente;
em disputas jurídicas, alguém pode questionar a validade.
Por isso, no meu escritório, usamos assinatura avançada apenas quando:
o cliente não tem a qualificada ainda e não quer ou não pode obter;
Mas sempre alertamos:
“Se o órgão exigir a assinatura qualificada, precisaremos migrar para ela.”
4. A excelente notícia: expatriados podem ter a Assinatura Qualificada de graça, pelo GOV.BR
Sim, é real. O GOV.BR (https://www.gov.br/governodigital/pt-br/identidade/assinatura-eletronica) permite que qualquer pessoa — inclusive estrangeiros com CPF — obtenha um certificado digital qualificado gratuitamente. Ele tem a mesma validade jurídica que um certificado tradicional ICP-Brasil, que custaria entre R$ 150 a R$ 300 por ano. Com ele, você assina, diretamente do celular, de qualquer lugar do mundo.:
contratos,
procurações,
documentos fiscais,
atos societários,
petições eletrônicas,
relatórios,
declarações oficiais.
5. Requisitos do GOV.BR para gerar sua Assinatura Qualificada
Para emitir a assinatura qualificada gratuita, você precisa:
✔ Conta GOV.BR nível prata ou ouro
Isso pode ser obtido por meio de:
seu banco brasileiro (Banco do Brasil, Caixa etc.);
validação facial pelo aplicativo;
integração com sua CNH brasileira;
comparação biométrica com dados do TSE (para quem tem título de eleitor brasileiro).
✔ Documento válido no Brasil
Como:
CPF ativo;
CNH (documento brasileiro de habilitação de veículo).
✔ Validação facial
O aplicativo vai pedir uma selfie comparando com bancos oficiais.
✔ Um dispositivo próprio (celular ou computador)
É nele que seu certificado será armazenado para assinar documentos.
6. Quando um expatriado realmente precisa da Assinatura Qualificada?
Aqui estão os cenários mais comuns no Cassiano:
abrir conta bancária à distância;
assinar procurações para Receita Federal;
enviar documentos fiscais;
formalizar saída fiscal (declaração de saída definitiva);
assinar contratos societários ou de investimentos;
assinar contratos de compra e venda de imóveis;
assinar contratos internacionais que envolvem bens no Brasil;
autenticar documentos perante consulados ou autoridades fiscais.
Para quem vive entre dois países, a assinatura qualificada evita:
recusa de documentos,
viagens desnecessárias,
atrasos em processos fiscais,
complicações com bancos,
necessidade de ir a cartórios.
7. Conclusão — O Brasil reconhece sua assinatura em qualquer lugar do mundo
A assinatura qualificada é a forma moderna, segura e gratuita de assinar documentos no Brasil.Ela substitui o antigo “reconhecimento de firma” e trouxe o cartório para a tela do seu celular.
Para expatriados, que vivem em movimento e contratam serviços jurídicos, contábeis e financeiros à distância, ela é essencial.
Se você ainda não tem uma assinatura qualificada, recomendo fortemente que configure a sua.É simples, rápido e poupa inúmeros problemas no futuro.
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📌 Este artigo tem caráter meramente informativo e não substitui consulta jurídica individualizada. Cada caso deve ser analisado conforme o país de residência e o tipo de rendimento.
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